terça-feira, 11 de agosto de 2009

Primeiro

Aproveitei, revirando os discos velhos naquela arca no quarto vazio, pra escrever uma história de vinil, lembrando um tempo em sépia e ouvindo um chiado charmoso, dizendo que o ontem agoniza, mas não morre.
Me sinto bem, pelos quadros na parede e pelos que ainda vou pendurar, sinto o bem mesmo no frio, quando eu preferi chorar sorrindo a alegria da morte que não veio (ela veio depois). Passou na porta do meu quarto, levando um pedaço de mim, pesada e marota assim, brincando de pula-cela sem saber os corações que vão parar. É uma imagem diferente, lírica-louca, talvez o digam, mas eu queria era mesmo dizer isso, que o nó da minha garganta não se desfez e que o choro na porta da igreja, ajoelhado na escada tão velha, partiu mais tarde naquela vez.
São assuntos também mortos, que choram mesmo quando arrefecer, não se fazem lembrar (ou imploram) um choro e um soluço, aquela mão que treme sem perceber, onde e quando naquele portão, preto de tinta descascada, deixando vazio o vagão da mente e da minha alma.
É assunto já bem velho, cansado e talvez bem gasto, vou contar aos netos que virão (se vierem, meu bom Deus) que não se cala um coração, que sempre se grita um perdão, mesmo que não se deva um dever. Flores em campos também velhinhos, talvez eu esqueça dessa vez, pra uma lápide - não fria - fazer alecrim nascer e perfumar a nossa morte, que mesmo como um dote nos leva pra perto do céu, lá onde fica a sustentação. Notas e harpas, pianos desafinados, agora eu vou pro céu, pruma nuvem de bom-lar.


COPACUBANA

2 comentários: