segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Frio de dia

Tem manhãs que acordam assim, friozinho, soprando fumaça no vidro e escrevendo sonhos bobos no vapor. No dia que amanhece escuro, o frio acalma a dor de um domingo que vai ser esquecido.
As cores mais cinzas, bentas de sol, podem brilhar num papel amarelado, contanto que os lápis do lado forem guiados por uma mão feliz.
Podia seguir nessa manhã, inconscientemente, andando com o pé machucado, usando o ontem de bengala mancando pra amanhã.
Troquei meu sapato novo por um chinelo velho, pra combinar com a jeans surrada e o coração cansado.


COPACUBANA

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

De Choros e Lágrimas

Chora a moça. Chora para limpar a alma, chora para extravasar, chora para transparecer emoção, chora para se sentir viva. Chora por ele; chora por ela. Chora. Chore moça, chore e deixar-te-ei fazê-lo, pois nem todas as últimas lágrimas são de tristeza.

COPACUBANA

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Primeiro

Aproveitei, revirando os discos velhos naquela arca no quarto vazio, pra escrever uma história de vinil, lembrando um tempo em sépia e ouvindo um chiado charmoso, dizendo que o ontem agoniza, mas não morre.
Me sinto bem, pelos quadros na parede e pelos que ainda vou pendurar, sinto o bem mesmo no frio, quando eu preferi chorar sorrindo a alegria da morte que não veio (ela veio depois). Passou na porta do meu quarto, levando um pedaço de mim, pesada e marota assim, brincando de pula-cela sem saber os corações que vão parar. É uma imagem diferente, lírica-louca, talvez o digam, mas eu queria era mesmo dizer isso, que o nó da minha garganta não se desfez e que o choro na porta da igreja, ajoelhado na escada tão velha, partiu mais tarde naquela vez.
São assuntos também mortos, que choram mesmo quando arrefecer, não se fazem lembrar (ou imploram) um choro e um soluço, aquela mão que treme sem perceber, onde e quando naquele portão, preto de tinta descascada, deixando vazio o vagão da mente e da minha alma.
É assunto já bem velho, cansado e talvez bem gasto, vou contar aos netos que virão (se vierem, meu bom Deus) que não se cala um coração, que sempre se grita um perdão, mesmo que não se deva um dever. Flores em campos também velhinhos, talvez eu esqueça dessa vez, pra uma lápide - não fria - fazer alecrim nascer e perfumar a nossa morte, que mesmo como um dote nos leva pra perto do céu, lá onde fica a sustentação. Notas e harpas, pianos desafinados, agora eu vou pro céu, pruma nuvem de bom-lar.


COPACUBANA

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Carnival

Não quero saber o que vai acontecer, tomo uma condução por vez, atravesso o mar à nado e compro mais um livro pra minha estante. Ontem emprestrei outros três.
Tenho alguma cor no pôr que vejo pela janela do ônibus azul, depois pego outro amarelo pra chegar no meu destino, mas as cores são bem mais bonitas se vistas de olhos coloridos, brilhantes ou pálidos, mas sem catálogo na caixa de lápis, sem rótulo na embalagem, sem embalagem no embalo docinho, mas com algodão doce num parque americano qualquer, que eles insistem em chamar de carnival. Carnaval me lembra praia e rede, morena e rosa, cheiro e gosto, gostar de quem gosta.


COPACUBANA

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O mar de novo

Os preços da vida e os pontos sem nó, os nós sem ponto nenhum e a vida em pó, pra por na água fervente e fazer uma nova.
43 quilometros em metros, atravessando a cidade pra encontrar um ponto final, uma exclamação que seja num apartamento qualquer. Atravessando o oceano, dando nós-de-marinheiro pra manter minha mente de pé.
Balada músical leva as notas pra janela, emoldura minha tela num cenario diferente. É particular em quanto meu, e seu enquanto nosso, me fazer feliz é meu negócio até a hora de iluminar. Ser feliz não é poema, é texto ruim, teoria de ninguém, procurar o que não vê e ver o mais-além.


COPACUBANA

domingo, 2 de agosto de 2009

Dia chato na lagoa, vendo os pombos ciscando e aquelas mesmas cenas comuns, lugares-comuns, clichês de cinema.
Mas eu gosto dos clichês, já chorei no cinema e filmes de ação não são meu forte, prefiro um capuccino ou um chá gelado, vendo um amor inventado numa tela grande.
As trilhas são as melhores, o Jazz parece chorar, um Blues bem encaixado também dá o ar da graça em qualquer parte de cena velha, preto e branco é mais clichê, esqueço a tela e olho pra você comendo pipoca. Sonho velho e fotografias não ilustram tão bem quanto uma Polaroid ou uma 35mm, já que o amor é tão velho quanto o tempo e merece tratamento especial, envelhecido com o charme de ontem.


COPACUBANA