sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Algumas vozes que eu não queria ouvir se calaram no momento errado, e hoje eu vi que infelicidade e auto-ódio são caracteristicas que eu costumo preservar mesmo sem perceber. Porque todo o mundo pode rir e sorrir, mas o meu sorriso vai ser sempre falso, falso como um desenho de giz, errado, canhoto, contrário.
Ouço e vejo explosões de algumas cores mortas, ouço e vejo várias linguas mortas conversando comigo numa noite qualquer, ouço e vejo eu mesmo no espelho quebrado pendurado na parede, ouço e vejo ninguém olhando pra mim, mesmo querendo falar de qualquer fim feliz, mesmo querendo falar de qualquer tarde morna, mesmo assim, talvez isso não seja um futuro e viver de passado é privilégio reservado aos que já caminharam o bastante.
A fúria não se mede, o grito não se conta, a história não se faz e eu não sei o brilho que pode vir a ter os olhos que um dia hão de cair, hão de enxergar um escuro final e assim luzir, naquela luz do fim do tunel que o silencio já cansou de me apresentar, e que eu, por assim dizer, já recusei ou desviei o olhar. Se eu pudesse escolher e fazer de mim o alguém do meu querer, eu fugiria da cidade e viveria escondido, eu beberia meu veneno, beberia um copo de noite bem gelado, enquanto estivesse cantando mal e errando as notas pra espantar qualquer dia quente que viesse trazer o sol.
Eu que tanto errei, eu que me distrai, hoje estou aqui ouvindo e vendo tudo que um dia eu não quis, dizendo e berrando tudo que, em algum dia feliz, eu neguei acreditar, todo aquele desespero de treze milhões de dias de chuva, todos os outubros perdidos em choros e velas e todas as vezes que eu explodi os planetas que rondam as órbitas dos meus olhos acessos. Toda vibração do que eu não senti hoje concentra num eu que eu não conheço a ferrugem desses espelhos que ainda insistem em refletir. Hoje, talvez, perdido em mim.


COPACUBANA