domingo, 14 de fevereiro de 2010

De Daca pra Damasco hoje

Aí chega o dia em que você não quer se explicar, só não quer. E fica de cabeça baixa, ou olhando pro lado ou olhando pro alto, mas vendo outras coisas, outros lugares e pessoas, às vezes nem vendo e vai assim, vivendo só pelo movimento.
Tudo isso que se faz ou se deixa de fazer, os sorrisos e "bom dia" que eu não dei de manhã e todo aquele passado que eu nem queria lembrar, por tudo que eu fiz e não fiz, por todo o arrependimento que hoje eu não senti, e tenho certeza de que não vou sentir tão cedo.
Vazio por dentro, os diamantes são pra sempre. Então eu sou assim, coberto de diamantes, achando que vou viver pra sempre, achando que todas serão a última aventura do zorro e parado aqui, ainda sem acreditar no sol da manhã que me acordou bem cedo pela janela perto da tevê.
Vou vivendo sem querer falar de mim, então falo que tudo isso é história de um tal de Joaquim, ou de um João qualquer, pra não me definir e pra falar que tudo que eu conto e escrevo é ruim, pedindo desculpa a cada tropeço ou acerto, porque nunca sei se acerto e é melhor prevenir que remediar. E também tem o medo, velho amigo de estrada, continua na caminhada sem saber se eu gosto mesmo do mundo ou se eu não gosto é de mim, que rima com assim só pra fazer um verso medíocre que só.
Vinte anos depois, o que é o que eu quero da vida, dos dez ou dos trinta que ainda estão naquelas cinzas da fogueira que eu fiz meio bêbado numa praia bem longe. E falando em bebida, já nem me lembro mais dos porquês, só pego meu chapéu (que eu roubei na rua) e saio procurando uns motivos pra sorrir por dentro, porque em mostrar os dentes, nisso eu já sou treinado.


Wino - COPACUBANA

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Verdadeira Bondade Humana

Dia-a-dia recebemos exemplos da bondade do homem. Sim, a bondade é algo presente em todos, algo que todos possuem. No entanto, aflorada ou não. A verdadeira bondade do homem é percebida nas pequenas ações cotidianas.

A verdadeira bondade está em conversar, por horas, com o cachorro do vizinho que viaja pelo mundo, não visando qualquer beneficio, sendo sua única recompensa a felicidade estampada no rosto do animal (por mais que seja um rosto diferente do nosso, sim, eles sorriem).

A verdadeira bondade está em não pautar suas ações visando a reciprocidade, visando o ganho, visando o lucro, visando qualquer coisa que não seja o prazer em ver a felicidade estampada no rosto, agora sim, um rosto comum, humano.

A verdadeira bondade humana está gritando dentro de cada um de vós. Ouçam-na. Mal não vos trará.


COPACUBANA

Stop and say hello

Não era tarde, mas também não era cedo e eu acabava de me levantar. A rotina matinal até que me agrada, me acorda por completo, o banho gelado me dá algum animo que depois eu busco no café. Mas hoje alguma coisa tava diferente.
Não costumo receber cartas, não costumo nem olhar a caixa de correio (e até hoje eu me perguntava porque uma caixa de correio, já que as contas me são entregues em mãos), mas hoje alguma coisa estava diferente, e aquela bandeirinha pra avisar que tem alguma coisa me esperando lá estava de pé, pronta para a batalha.
Fui - sem camisa e de pijamas - procurar a chave daquele cadeado velho e enferrujado, nos mesmos trajes eu fui abrir a caixa de correio que, finalmente (para alegria ou espanto) tinha algum pedaço de papel endereçado à mim.
Era um cartão postal, meu Deus, Um cartão postal! Quem hoje em dia usa esse tipo de coisa?
Era endereçado à mim, de fato, um cartão postal da Itália e uma chave, do meu... vizinho. Ok, tudo bem que eu nunca troquei duas palavras além do tradicional "bom dia", não conhecia sua família, se é que ele tinha, só sabia que o cachorro não parava de latir e incomodava todo o mundo, menos eu.
No cartão postal não tinha muita coisa escrita (óbvio, pra um cartão postal), e o que tinha escrito era difícil de ler, ô letrinha abusada de ruim.
"Bom dia, vizinho. Ainda é dia? Enfim, por favor, converse com meu cachorro, ele está só. O nome dele é Duque."
Cara, não existe coisa mais estranha que isso. Eu nunca fui certo mesmo, fui trocar uma idéia com o canino da nobreza, de chave em punho abri aquele portão velho e o cão estava lá, sem latir, olhando pro nada e ao mesmo tempo pra mim. Acho que quando ele ouviu o portão, pensou que podia ser seu dono, estava animado, e eu tratei de por um fim na sua animação com minha careta por um portão que eu nunca havia entrado.
A casa era bonita, jardim bem cuidado (não sei quem cuidava do jardim, o cachorro talvez... hahaha) e um banco ali, feito de madeira, talvez o vizinho tenha o feito, com esse monte de árvores no quintal, né?
Voltando ao cachorro, me sentei no banco de madeira e logo o cão veio e sentou do meu lado, "nada estranho pra um cachorro ensinado", eu pensei. Fiquei ali, parado por algum tempo, olhando pro cachorro que olhava pra mim.
Ok, eu tô ficando louco, mas e daí? Perguntei ao cachorro como ele ia - sem resposta, por mais assustador que possa parecer - e comecei a falar um pouco sobre mim, sobre a minha vida e minhas histórias e estórias desconexas do mundo lá fora. Será que ele já viu o mundo lá fora?
Isso não interessa agora, passei umas boas duas horas conversando com o cachorro, companhia agradável, garoto bom, bom garoto. Duque era de uma fineza impressionante e de uma educação invejável.
Fui almoçar e voltei com um álbum bacana dos Beatles e meu estéreo, botei lá pro Duque ouvir e passei a tarde papeando com o cachorro que meu vizinho deixara ali, sem amparo.
Já anoitecendo o cão saiu do meu lado, se encostou nuns pés de hortelã que ficavam perto do muro e deitou, foi minha deixa pra pegar meu estéreo, os Beatles e parar de falar, o cão estava cansado.
Dormi aquela noite e parecia que eu tinha dormido uma semana ou duas, o cachorro não latiu, não uivou, não se pronunciou durante aquela noite - a vizinhaça que me agradeça - mas eu não voltei lá, e o Duque continuava sem incomodar ninguém, ficou uma semana assim.
Na outra segunda eu já nem lembrava dessa história toda, mas me chega outra correspondência. Outro cartão postal.
Dessa vez o cartão postal era de Beirute, mas ainda era do meu vizinho, o dono do Duque, e na caligrafia ruim eu só consegui ler um "obrigado".


COPACUBANA

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sol da tarde

Toda manhã é só mais uma, todo sol é o mesmo sol pra todo mundo que ainda insiste em reclamar do tempo. Mas cá entre nós, bem que podia chover mais tarde, né?
E falando em mais tarde, talvez seja tarde pra falar alguma coisa e sussurrar uns amores por ai, mesmo eu achando que é cedo o bastante pra todo mundo rir em paz mesmo do avesso. É cedo, bobagem, nunca é tarde pras coisas da vida, nunca é tarde pra mais uma mentira imperdoavel ser perdoada, pras músicas velhas serem cantadas e pros passarinhos daquela janela ali cantarem também.
Só não esquece do tempo, porque nunca é tarde mas existe o atraso, e é cedo que eu me refaço e lembro de você. Nunca é tarde mais o tempo castiga, mesmo aquela mão amiga que bagunça o cabelo domingo de tarde tomando sorvete de morango.
Hoje é tarde, na verdade não é tarde, é só depois da manhã e antes da noite. Não é tarde, só é um dia jovem, cansado e quente, sem nenhum sabor aparente esperando a lua chegar.
A tarde é nossa, à tarde nunca é tarde pra amar.


COPACUBANA

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Mês um

Como é que se volta a fazer algo que nunca foi aprendido, algo pra ser entendido, aquilo que eu devia falar e não ter escrito? E eu volto assim, fazendo perguntas bobas e rezando pra chover, mesmo sabendo que o sol também abençoa e o calor febril (assim como eu)
não faz mal pro amor.
É ai que as palavras não saem, ou vem curtas demais pra descrever aquilo tudo que eu não me canso de ver e poderia repetir nove milhões de dias, assim, seguidos e surrados, sofridos, batalhados e sorridos, nesses sorrisos que acompanham a felicidade.
Depois de voltas e rodeios, mãos dadas e vento bagunçando cabelos debaixo daquela sombra escondida, depois de não saber direito o que dos quais e poréns essa noite eu só queria saber de verdade se você tá feliz.



COPACUBANA