terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Stop and say hello

Não era tarde, mas também não era cedo e eu acabava de me levantar. A rotina matinal até que me agrada, me acorda por completo, o banho gelado me dá algum animo que depois eu busco no café. Mas hoje alguma coisa tava diferente.
Não costumo receber cartas, não costumo nem olhar a caixa de correio (e até hoje eu me perguntava porque uma caixa de correio, já que as contas me são entregues em mãos), mas hoje alguma coisa estava diferente, e aquela bandeirinha pra avisar que tem alguma coisa me esperando lá estava de pé, pronta para a batalha.
Fui - sem camisa e de pijamas - procurar a chave daquele cadeado velho e enferrujado, nos mesmos trajes eu fui abrir a caixa de correio que, finalmente (para alegria ou espanto) tinha algum pedaço de papel endereçado à mim.
Era um cartão postal, meu Deus, Um cartão postal! Quem hoje em dia usa esse tipo de coisa?
Era endereçado à mim, de fato, um cartão postal da Itália e uma chave, do meu... vizinho. Ok, tudo bem que eu nunca troquei duas palavras além do tradicional "bom dia", não conhecia sua família, se é que ele tinha, só sabia que o cachorro não parava de latir e incomodava todo o mundo, menos eu.
No cartão postal não tinha muita coisa escrita (óbvio, pra um cartão postal), e o que tinha escrito era difícil de ler, ô letrinha abusada de ruim.
"Bom dia, vizinho. Ainda é dia? Enfim, por favor, converse com meu cachorro, ele está só. O nome dele é Duque."
Cara, não existe coisa mais estranha que isso. Eu nunca fui certo mesmo, fui trocar uma idéia com o canino da nobreza, de chave em punho abri aquele portão velho e o cão estava lá, sem latir, olhando pro nada e ao mesmo tempo pra mim. Acho que quando ele ouviu o portão, pensou que podia ser seu dono, estava animado, e eu tratei de por um fim na sua animação com minha careta por um portão que eu nunca havia entrado.
A casa era bonita, jardim bem cuidado (não sei quem cuidava do jardim, o cachorro talvez... hahaha) e um banco ali, feito de madeira, talvez o vizinho tenha o feito, com esse monte de árvores no quintal, né?
Voltando ao cachorro, me sentei no banco de madeira e logo o cão veio e sentou do meu lado, "nada estranho pra um cachorro ensinado", eu pensei. Fiquei ali, parado por algum tempo, olhando pro cachorro que olhava pra mim.
Ok, eu tô ficando louco, mas e daí? Perguntei ao cachorro como ele ia - sem resposta, por mais assustador que possa parecer - e comecei a falar um pouco sobre mim, sobre a minha vida e minhas histórias e estórias desconexas do mundo lá fora. Será que ele já viu o mundo lá fora?
Isso não interessa agora, passei umas boas duas horas conversando com o cachorro, companhia agradável, garoto bom, bom garoto. Duque era de uma fineza impressionante e de uma educação invejável.
Fui almoçar e voltei com um álbum bacana dos Beatles e meu estéreo, botei lá pro Duque ouvir e passei a tarde papeando com o cachorro que meu vizinho deixara ali, sem amparo.
Já anoitecendo o cão saiu do meu lado, se encostou nuns pés de hortelã que ficavam perto do muro e deitou, foi minha deixa pra pegar meu estéreo, os Beatles e parar de falar, o cão estava cansado.
Dormi aquela noite e parecia que eu tinha dormido uma semana ou duas, o cachorro não latiu, não uivou, não se pronunciou durante aquela noite - a vizinhaça que me agradeça - mas eu não voltei lá, e o Duque continuava sem incomodar ninguém, ficou uma semana assim.
Na outra segunda eu já nem lembrava dessa história toda, mas me chega outra correspondência. Outro cartão postal.
Dessa vez o cartão postal era de Beirute, mas ainda era do meu vizinho, o dono do Duque, e na caligrafia ruim eu só consegui ler um "obrigado".


COPACUBANA

Um comentário:

  1. Um texto grande, realmente
    mais não precisa ficar ai se 'menosprezando'.
    Cartões postais,taí uma coisa legal, né?

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